'Ação de um 'superjuiz' muda a justiça portuguesa e faz cair uma certa elite dos negócios'

A statue of the scales of justice stand above the Old Bailey

A statue of the scales of justice Source: Getty Images

Em Portugal havia a noção de que os poderosos eram intocáveis. Os financeiros, mais do que os políticos, tanto que a Ricardo Salgado, patrão do Espírito Santo, o maior grupo económico português, chamavam DDT, acrónimo para “Dono Disto Tudo”. De facto, veio a ficar evidenciado, algum poder político submetia-se aos interesses desse poder económico.


Foi assim que José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal entre 2005 e 2011, eleito com maioria absoluta, veio a ser detido em novembro de 2014.

Quatro meses antes, por ação conjunta da justiça e do regulador financeiro, Ricardo Salgado, o tal DDT, foi afastado da liderança do grupo Espirito Santo, com o influente banco com o mesmo nome a ser extinto e a dar lugar a um novo banco, chamado precisamente Novo Banco.

Depois, António Mexia, presidente da EDP, o maior grupo elétrico português a quem ele deu expansão internacional. Afastado de funções, está à espera da decisão do tribunal.

Há uma semana, foi Joe Berardo, o multimilionário homem de negócios que conseguia dos bancos que queria comprar dinheiro emprestado para os comprar, mas que ficava por pagar.

Agora, Luís Filipe Vieira, presidente e na prática dono, vai para 18 anos do Benfica, clube apresentado como o maior de Portugal.

Vieira, o empreendedor  que passou as últimas décadas fugindo ao crédito malparado através de benevolentes reestruturações de dívidas e que está acusado de se servir dos negócios do clube para enriquecer mais.

Eram ilustres e destacados membros de uma certa elite portuguesa; agora ocupam as cadeiras dos réus – dos corredores do poder passaram para os corredores do tribunal.

Há uma figura comum à queda de todos estes poderosos: Carlos Alexandre, o superjuiz. Foi ele quem assinou todas as ordens de detenção, quase sempre com controvérsia pelo espetáculo em volta da detenção de pessoas que declaravam estar prontas para comparecer perante o juiz, se para isso chamadas.

Agora mesmo, nesta semana, o transporte de Luís Filipe Vieira do edifício onde ficou detido para o tribunal parecia o transporte de um perigoso terrorista com avenidas cortadas para o cortejo passar com vasta escolta armada e as tvs em direto.

Há uma questão: todos estes poderosos estão ainda à espera de julgamento. Estão condenados pela opinião pública, mas ainda falta o veredicto dos tribunais.

Precisamente nesta semana, um outro caso, o do roubo de armas do paiol militar de Tancos. O caso explodiu há 3 anos e levou à demissão do então ministro da Defesa, Azeredo Lopes, acusado de encobrimento. Passados 3 anos, os mesmos procuradores que o tinham acusado reconhecem agora que afinal ele nada tinha a ver com o caso, não sabia de coisa alguma.

Não é a primeira vez que sucedem desfechos assim. Daí a noção de que esta justiça portuguesa que aparece vigorosa com o superjuiz pode ficar muito abalada se os enormes processos em construção há 7 anos não forem confirmados em julgamento.

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