António Damásio, 67 anos, prestigiado neurocientista, português há 40 anos nos Estados Unidos da América, dirige o Instituto do Cérebro e da Criatividade da Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles.
Damásio é um estudioso do cérebro, dos processos que determinam as nossas emoções, os nossos sentimentos, a nossa consciência.
António Damásio publicou há já 26 anos O Erro de Descartes, livro que se tornou campeão de vendas nas diferentes edições pelo mundo.
É um livro em que Damásio nos explica o que é sentir: “É a forma natural e direta de sabermos que estamos vivos.” Depois, faz a distinção entre sentimentos e emoções.
Fundamentalmente, explica, os sentimentos são algo profundo e formas de sentir que se referem ao estado da nossa vida. São ocorrências mentais e internas. Mesmo que traduzam em algo que possa ser apresentado do ponto de vista exterior, os sentimentos são interiores e apreciáveis apenas por nós próprios. Embora normalmente pensemos em sentimentos emocionais (como quando nos sentimos zangados ou com medo), outros grandes exemplos são o bem-estar, o mal-estar, a fome, a sede, a dor, o prazer ou o desejo. Portanto, os que estão relacionados com a vida. As emoções são públicas, dirigidas para o exterior.
Damásio tem publicada vasta obra sobre o comportamento humano. Um trabalho com implicações em várias áreas do saber - não apenas na neurociência, também, por exemplo, na psicologia, na filosofia.
Esteve recentemente em Portugal para participar numa conferência. Sendo um cientista de topo mundial, obviamente foi-lhe perguntado muito sobre a Covid-19 e António Damásio fez questão de lembrar que um virus não é um ser vivo como uma bactéria. António Damásio quis marcar bem a diferença entre virus e bactéria:
" Um vírus não é como uma bactéria, que está de fato viva, e que é um ser, um organismo, com diversos componentes, um organismo muito simples, mas que é um organismo vivo com a sua organização, com a sua regulação homeostática e as capacidades que tem de conseguir singrar até um determinado ponto, que é o fim da vida.
O vírus não é nem vivo nem morto. É uma coisa in between. E é um estatuto extremamente perigoso exatamente por isso. Porque escapa à maneira como nós normalmente lidamos com seres vivos.
E lidar com bactérias é mais fácil do que lidar com vírus. Por causa das mutações e da maneira como escapa... e depois esta coisa extraordinária que é nós acabarmos por falar dos vírus como se estivessem vivos, como se fossem criaturas pensantes... 'Os vírus vão tentar apanhar-nos.' E 'o vírus muda e esconde-se'. Não se esconde coisa nenhuma. É um produto muito particular que escapa à nossa imaginação. Não é fácil imaginar aquilo que seja "a vida" de um vírus."