'No Festival de Warrnambool celebramos a 'descoberta' portuguesa da Austrália': Alda Pereira Retre, organizadora

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Rui Revez e Alda Pereira Retré: organizadores de um dos eventos portugueses mais tradicionais da Austrália Source: LF/SBS Portuguese

Alda Pereira Retre, presidente da Comissão das Comunidades de Língua Portuguesa de Victoria, é uma das pessoas mais envolvidas na organização daquele que é, talvez, o maior evento da comunidade portuguesa na Austrália – o Festival Português de Warrnambool. Nesta entrevista à SBS, Alda Retre desvenda algumas das surpresas do festival deste ano e garante que a festa será ainda mais especial.


Alda Retre, que ensina matemática e ciências no ensino secundário e é a professora de português dos anos 11 e 12 do estado de Victoria, vive em Melbourne desde que chegou à Austrália, apenas com 3 anos de idade.

Diz ela que cresceu “no seio da comunidade portuguesa”, pela mão dos seus pais que sempre a incentivaram a “dançar no rancho folclórico, a vestir o traje português e a dizer versos de poetas portugueses” desde muito pequenina.

Aprendendo a história que está por detrás do conceito do Festival de Warrnambool diretamente pela voz e carisma do Comendador Carlos Pereira de Lemos - uma figura incontornável da comunidade portuguesa na Austrália e aquele que será para sempre conhecido como o 'pai' do Festival de Warrnambool - Alda teve a sorte de se iniciar nas lides do festival desde muito jovem e, principalmente, logo no arranque das primeiras edições do evento.
Rancho folclórico português - Seniores da APV, no Festival de Warrnambool
Rancho folclórico português - Seniores da APV, no Festival de Warrnambool Source: Foto de cortesia, cedida por Alda Retre
Alda conta que “reza a lenda” (e para alguns, “reza” a teoria académica das área da história e cartografia marítima) que foram os portugueses, afinal, os primeiros europeus a descobrirem o território australiano.

O capitão Cook teria cá chegado posteriormente, sendo que na época os navegadores portugueses acabaram por não explorar o território por pura falta de interesse comercial – perceberam de imediato que a Austrália não era forte em especiarias que, na época, era o que incentivava os portugueses a aventurarem-se por mares adentro, desbravando terras e desenhando o mapa do mundo.
Assim, sem especiarias à vista, os navegadores portugueses deram “meia volta” e seguiram o seu caminho, sem grande interesse pelas terras de Down Under. Que são, aliás, terras que sempre foram e sempre serão do povo Aborígene da área de Warrnambool – os Dhauwurd Wurrung, também conhecidos pelo povo Gunditjmara.

Alda, não esquece nunca este facto, e acrescenta a esse propósito o seguinte:
A comissão de organização do festival abre sempre o evento com uma cerimónia de reconhecimento e respeito pelo povo Aborígene destas terras, que são deles há muitos milhares de anos pois eles já cá estavam muito antes dos europeus cá chegarem
A ideia de terem sido os portugueses a chegar à Austrália antes dos ingleses já data de 1800s e ganha substância na versão dos factos do colono Hugh Donnelly, em 1836, que deixou escrito que, um dia, dois baleeiros estavam de regresso a Port Fairy – a 25 kms de Warrnambool – quando avistaram na Baía de Amstrong “destroços antigos de mogno” nas dunas de areia.

Como o mogno era um material típico das caravelas portuguesas da época, assim começou o mito, sendo o nome dado ao suposto navio avistado – Mahogany Ship – um nome que hoje também é o de um caminho pedestre, um condomínio e até um hotel em Warrnambool.

A cidade de Warrnambool tem gosto nesta ligação ao povo português e a comunidade portuguesa não poderia ter mais orgulho no monumento erguido em sua honra no topo da colina de Canon Hill - o `padrão` com o escudo português, onde a comunidade pode ir recordar os seus grandes feitos dos Descobrimentos com uma paisagem bonita de fundo, com vista para a baía de Warrnambool.
Monumento do ´padrão´ português na colina de Canon Hill, Warrnambool
Monumento do ´padrão´ português erguido na colina de Canon Hill, Warrnambool Source: Foto de cortesia, cedida por Alda Retre
É ao ´padrão´ que muitos portugueses, e pessoas de muitas outras nacionalidades, residentes na Austrália e turistas, se dirigem para participarem no Festival de Warrnambool que é agora da responsabilidade de Alda e dos seus colegas e parceiros da comissão de organização.  Pessoas que rodeiam Alda a cada novo evento do festival e por quem ela sente muito apego e gratidão:
A cada nova edição do festival damos o melhor de nós. Unidos. Somos muitos e todos diferentes, mas todos temos a nossa voz na comissão!
E este ano não será exceção, mesmo em situação de pandemia, a qual “atrapalhou, e muito, a organização do evento deste ano, em todos os aspectos”, confessa Alda. Mas “com a presença do embaixador de Portugal na Austrália [Dr. Pedro Rodrigues da Silva]” no festival deste ano, Alda diz estar muito feliz pela “visita tão ilustre, nesta ocasião tão importante para todos os portugueses, dentro e fora da Austrália”.
Festival de Warrnambool - festa no parque
Festival de Warrnambool - festa no parque Source: Foto de cortesia, cedida por Alda Retre
Para saber mais acerca da edição de 26 e 27 de fevereiro do Festival de Warrnambool, desde os artistas convidados à gastronomia portuguesa preparada especialmente para o evento, oiça a versão áudio da nossa entrevista a Alda Pereira Retre incluída neste artigo.

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