'A malária precisava de combate com a mesma energia que a mobilizada para a Covid'

A woman suffering from malaria rests on a bed at a hospital in El Sereif village, North Darfur, Sudan.

A woman suffering from malaria rests on a bed at a hospital in El Sereif village, North Darfur, Sudan. Source: AP

Faz agora um ano, a Covid ainda era uma grande desconhecida a propagar-se em forte ameaça, ainda não havia vacinas. O jornal New York Times inspirado no livro Decameron, de Bocaccio – com história da epidemia de peste bubónica que dizimou a população de Florença no ano 1348 – pediu a 29 escritores que escrevessem pequenos contos relacionados com o modo como a pandemia estava a ser vivida nos lugares deles.


Entre os 29 escritores que aceitaram, a muito idolatrada e premiada canadiana, Margareth Atwood, a franco marroquina Leila Slimani, que já é nome principal da escrita em francês também corresponderam o irlandês Colm Toibin, o italiano Paolo Giordano e entre a quase trintena de escritores convidados – e que aceitaram – o moçambicano Mia Couto.

Título escolhido por Mia para este conto que escreveu ‘O gentil ladrão’.

É a história de um velho ainda mais só nos tempos de solidão pla pandemia – a quem acontece algo que não acontecia há muito – receber uma visita, um homem definido como afável, voz doce e olhar delicado, mas de quem o velho desconfia.

O modo como este velho se apresenta, no relato de Mia Couto – vale como retrato dos efeitos da pobreza e da saúde em Moçambique….

“Quase morri de varíola. A minha esposa morreu de tuberculose,. A malária roubou-me o meu único filho, fui eu que o enterrei sozinho. Os meus vizinhos morreram de sida, nunca ninguém quis saber. A minha falecida mulher dizia que a culpa era nossa porque escolhemos viver longe dos lugares onde há hospitais.”

A ficção escrita por Mia Couto – espelha a realidade que entretanto tem evoluções. A sida flagelou Moçambique – mas muitos esforços transformaram-na em doença crónica.

A tuberculose está a ser dominada. A malária – ou paludismo – continua, só no ano passado, mais de 500 mil casos.

Tinham sido 400 mil no ano anterior a mortalidade associada à malária está a diminuir.

Mas esta continua a ser a maior causa de mortalidade infantil em moçambique – como em muitos outros países do mundo mais pobre.

Por toda a parte multiplicam-se esforços – para atalhar a mortalidade da doença parasitária transmitida pla picada do mosquito ANOPHELES.

Os números da OMS dizem-nos que em 2019 – 228 milhões de pessoas - plo mundo -sofreram de malária – e quatrocentas mil morreram – grande parte – crianças.

90% dos casos de malária ocorrem na África sub-sahariana. Moçambique é um dos países mais flagelados por este mal. Entre as equipas de cientistas que plo mundo tratam de descobrir modos de combater a malária -. Há vanguardas portuguesas, a investigadora Maria Manuel Mota – primeiro no Instituto Gulbenkian de Ciencia, agora no Instituto de Medicina Molecular, tem o esforço de mais de 20 anos recompensado com grandes progressos – a abrir possibilidades para medicamentos antimaláricos agora – precisamente no coração de Moçambique.   

Em Mopeia – lugar de difícil acesso no interior da província da Zambézia – com vastos campos de milho e arrozais todas as 150 mil pessoas da cidade e da região rural.

Já estão a participar num teste promovido plo ISG – Instituto de Saúde Global, de Barcelona.

A equipa de investigadores está financiada com 21 milhões de euro e o que se pretende é verificar a eficácia de um fármaco. Já conhecido como antiparasitário – a ivermectina (é prescrito 1 comprimido por mês durante 3 meses), o plano – não visa imediatamente a cura de pessoa picada – mas a eliminação do mosquito que pica.

Esta equipa sustenta que – o mosquito ao picar uma pessoa com ivermectina no sangue – fica afetado, morre logo a seguir o que está em avaliação é se a administração de ivermectina a toda a população de uma zona com alta incidência do mosquito anófeles – a que se junta a pulverização dos campos e a proteção das casas através da fumigação e de redes mosquiteiras – permite a redução expressiva das possibilidades de ataque por esses mosquitos.

O projeto também prevê administrar a ivermectina ao gado  - sempre muito procurado e picado plos mosquitos.

É uma das muitas armas que estão a ser exploradas – sendo que a vacina – segura, eficaz, acessível a todos – é a grande aspiração para a erradicação desta tormenta da malária.

A Europa e a América do Norte conseguiram livrar-se dos casos que proliferavam há um século agora o combate é para conseguir o mesmo em áfrica e na américa do Sul.. de um lado o Brasil – do outro, a Nigéria, o niger, a costa do marfim, a republica do congo, o uganda – e Moçambique, países mais atormentados por este mal que tanto asfixia, sobretudo crianças – e que italianos antigos batizaram como mau – a – mal aria – e ficou malária.

Siga a SBS Portuguese no FacebookTwitter e Instagram e ouça os nossos podcasts

Share
Follow SBS Portuguese

Download our apps
SBS Audio
SBS On Demand

Listen to our podcasts
Independent news and stories connecting you to life in Australia and Portuguese-speaking Australians.
What was it like to be diagnosed with cancer and undergo treatment during the COVID-19 pandemic?
Get the latest with our exclusive in-language podcasts on your favourite podcast apps.

Watch on SBS
Portuguese News

Portuguese News

Watch in onDemand